POR CARLA JIMENEZO obstetra José Antônio Marques não é dos mais aficionados à leitura dos cadernos de economia dos grandes jornais. Com a rotina dividida entre o consultório, na zona oeste de São Paulo, os partos cotidianos e a direção científica da Fundação Oncocentro, Marques tem pouco tempo livre para se atualizar sobre a vida econômica nacional. Mesmo sem conhecimento profundo a respeito dos meandros financeiros, ele é um caso exemplar, aos olhos de especialistas no assunto, de um profissional médico que administra bem o seu dinheiro. Marques diversificou suas finanças ao longo de 30 anos de carreira com a aquisição de imóveis, aplicações em fundos de investimento e um plano de previdência privada. Sua motivação inicial chega a ser trivial. Ele detesta a idéia de dever dinheiro. Por isso, se preveniu. “Não faço dívida que eu não consiga pagar. Caso contrário, eu não durmo.”Seja para manter um sono tranqüilo ou simplesmente para ter reservas que garantam a realização de sonhos, as razões para se investir e planejar as finanças são muito mais simples do que o senso comum acredita. “É para ter qualidade de vida, para engolir menos sapo na vida”, brinca o especialista Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). O conselho vale para todo e qualquer profissional. Mas para um médico, que muitas vezes tem mais de uma fonte de renda e invariavelmente assume o papel de empreendedor na condução de um consultório próprio, o controle do dinheiro é imprescindível. O especialista Reinaldo Domingos, da consultoria Financeiro 24 Horas, garante que não é necessário saber o que são juros compostos ou blue chips (ações mais valorizadas na Bolsa) para guardar e fazer render o pró-labore de um médico. “Só é preciso ter atitude e disciplina”, diz ele. E alerta: quanto mais ganhamos, menos controlamos.Embora no Brasil os índices de inadimplência sejam maiores entre quem ganha menos, um levantamento feito em novembro pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) demonstra que boa parcela dos mais abonados também carrega dívidas por falta de planejamento. Dentre os 1.360 entrevistados na capital paulista com renda acima de dez salários mínimos, 25% se declararam inadimplentes. “Há pessoas que ganham R$ 40 mil mensais e ainda assim conseguem gastar mais do que têm”, observa o administrador de investimentos Fábio Colombo. AUTOCONTROLE A médica Luiza (nome trocado), dona de uma clínica em São Paulo, é um daqueles casos de gente que guarda menos do que poderia efetivamente, por não saber gerenciar suas finanças. “Sou completamente desorganizada. Sou consciente de que deixo de ganhar dinheiro por não administrar bem minhas contas”, diz. Entre os “pecados” que ela comete está a mistura de suas obrigações como pessoa física e jurídica. “Pago contas da clínica com meu cheque pessoal e contas pessoais com cheque da clínica”, admite. Ainda que Luiza não tenha chegado a uma situação-limite, ela reconhece que contribui para um desperdício de recursos. É um risco comum, segundo Reinaldo Domingos. “O lucro do mês pode ser perdido por essa falta de controle”, diz. “E, na prática, profissionais liberais, de um modo geral, padecem desse mesmo mal”, completa o consultor. Ele observa que muitos médicos, à medida que acumulam um certo status e capital, começam a sentir-se confiantes demais, um passo para o descontrole.Uma das explicações é que a mudança do patamar de ganhos pode acontecer num curto espaço de tempo e o profissional não se prepara tanto. Ao mesmo tempo, a pulverização de gastos faz as pessoas perderem a noção de suas obrigações. “Ninguém tropeça em grandes dívidas, e sim em pequenas”, diz.
Fonte: Diálogo Roche
terça-feira, 6 de novembro de 2007
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